quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Eu, em algumas ruas de Lisboa

Pois bem, parece que o lá já se transformou em cá e que, se ainda não se as margens do rio Tejo estão a direita virando a esquina ou se é mesmo só pra seguir reto toda a vida, já posso lhes informar, a todos, que a Rua Andrade Corvo fica perto da Praça Saldanha, no Picoas, sei que estou morando agora na Estefânia, perto do Largo, e que pego a Casal Ribeiro para chegar na Cinco de Outubro e seguir reto até a Igreja, mas ainda não sei o nome da Igreja, mas que fica do lado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL que me importa.

Alguns dizem que é andando que se conhece o que se anda. "Eu preciso andar, um caminho só, vou buscar alguém, que eu nem sei quem sou", mas isso não descubro tanto andando, mas sim encontrando e me vendo como me vêem. Espelhos ou pessoas pra me definirem. Para para conhecer o que se anda, mais que andar, é procurar quarto para morar em anúncio de jornal. Quarto partilhado com TV em Benfica, que fica longe daqui, quarto individual barato em Odivelas, que mal aparece no mapa de tão longe, e nem vou falar do quarto confortável e fresco que fica no centro, que dizem até que é perigoso.

Estou descobrindo aliás que Lisboa é a terra do marco zero do conhecimento de qualquer coisa. Eu pelo menos, que sou eu e que eu sou tudo menos Lisboa, vou andando e olhando e a cada olhar nasce uma nova constatação. E acho que era isso que eu queria dizer, sim, que Lisboa é a terra onde nascem as constatações, e crescem desde pequenas com seus olhares mal feitos de preconceitos de não saber como e pra onde olhar porque já olham errado e depois tem que fechar os olhos para não saber o que não se devia. E aí fico nessa de buscar o português comum, o incomum, tento me supreender com o que devia e achar normal o que se acha, descobrir palavras mágicas que puxam botões de ligar e desligar a humanidade das pessoas, ver que entre "faz-favor" e a crueza de um "oi, você sabe me dizer" separa um português simpático de uma virada de olhos que assassina sua existência por quase três ou quatro segundos.

Por enquanto, continuo a olhar para prédios com olhos de surpresa enquanto eles ainda me surpreenderem, a passar de praça em praça vendo monumentos sem nome até que tenham nome e se transformem em pedaços de pedra com nome também conhecidos como referência para se chegar no meu endereço, passando pelo prédio da telefônica e pela estátua do José Fontana, e a me livrar dos gerúndios, que é a primeira coisa que fiz quando cheguei, já que gerúndios não passam pela alfândega em Portugal. Espero comprar novos quando voltar.

E que espero conhecer pessoas que durem mais do que quinze minutos, já que a existência de turistas e de esbarrões nas ruas parece evaporar em contato com o daqui a pouco, ou com aviões que tem que decolar, ou com a próxima esquina onde tenho que ir por aqui mas você segue em frente até a hora de virar a esquerda. Porque ficar nesse ver e não ver mais quem eu sou de quinze em quinze minutos já vai perder a graça e quero ver se duro pelo menos seis meses antes de deixar de ser qualquer coisa de novo.

Volto a escrever quando me encontrar. Talvez, já sem gerúndio nenhum, mas com muitos infinitivos.

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