sábado, 15 de setembro de 2007

Cama do meio na casa de Dona Manuela

Não sabia o que era que me incomodava nos primeiros momentos de habitante da cama do meio do quarto da esquerda depois da porta de entrada do apartamento da dona Manuela e que tem um cômodo estranho, um cubo, eu diria, desses de madeira, antes da porta e que já quebrou meu joelho duas ou três vezes.

Pensei que era isso de não saber onde as coisas estão ou onde ficam. Porque de tudo o que não ficou em Brasília, de todas as Brasílias e Brasis que eu não troxe na mala ainda que sem saber bem porquê, aquilo pouco que veio tinha que sair e agora queria ter lugar. E se enfiaram em armários, armários de baixo, armários de cima. Sim, porque aquilo não tem outro nome, são armários, armários e também armários. E o que veio já não sabia mais onde estava, e eu não sabia mais onde que eu tinha me colocado, e isso foi estranho e quis ir embora no dia seguinte por algumas horas.

E talvez também porque tinha dois caras dos meus dois lados pois que a minha era a cama do meio e achava que não iria conseguir falar e não-falar com duas pessoas ao mesmo tempo. Dessas que trabalham e que não entendem piadas de estudantes de vinte anos e riem das minhas ironias depois de longas pausas em que ainda não sei se posso ser agredido nos próximos instantes, e sei que vou ser quando minha ironia sair meio torta demais para cariocas que moram a vinte anos em Portugal ou para portugueses do Alentejo que não suportam que os outros façam com que ele repita o que ele disse mais do que meia vez. Não o culpo, os diálogos são grandes fábricas de redundância.

Mas como podem ver, já os conheço quase como se fosse ontem, e tanto que já sei de um que quase já matou outros, que era militar e que queria atirar no Figueiredo quando o avião dele subia, e de outro que trabalha aqui e mais pra lá também daqui um dia qualquer desses e que é dono da verdade, pois que a comprou um dia desses ou levou quando ninguém estava olhando. Aliás, os dois são. Eu só concordo. Ou digo que talvez. É fácil ser respeitado. Tão fácil que é só dizer que sim ou que talvez, quem sabe, é até viável, e quem se importa com meus nãos internos. Servem de nada mesmo.

2 comentários:

vina apsara disse...

afinal, o que vc tá fazendo em portugal?!

Anônimo disse...

pra quem morou a vida toda sozinho num quarto...!

seus posts são gigantes, meu deus!

aqui está meu blogue novo =P